domingo, 31 de maio de 2015

Fantasmas e assombrações

Almas do outro mundo e botijas

As almas do outro mundo – escreveu um jornalista – os fantasmas, os espectros, são examinados hoje à luz de uma ciência nova, a metafísica, criada por um francês, Richet, fundador de um instituto especializado.
Cristo não tinha ainda vindo ao mundo e já apareciam fantasmas nas margens do Nilo para vingar um rei assassinado. Há fantasmas na Torre de Londres, onde tanta gente foi executada, inclusive Ana Bolena, decapitada por ordem do rei, seu esposo, nos castelos medievais da Dinamarca; da França, da Alemanha, desfila a procissão dos dominicanos e aparece uma mulher, com anáguas engomadas e uma vela acesa nas mãos, nos campos da Colômbia; na Bélgica, Maeterlinck e um grupo de amigos, viram um fantasma – pessoa morta em 1693 – num convento; de batina branca um padre surge, uma vez por outra, na catedral de São Paulo;em Londres, em Hove, em 1952,   cinco sócios do Clube dos Caçadores de Fantasmas de Sussex, conduzindo aparelhos diversos, radar inclusive, penetraram num edifício mal-assombrado, construído há mais de 200 anos, organizaram armadilhas, etc. Figuras apareceram na tela do radar, mas não conseguiram eles pegar uma alma do outro mundo sequer, para amostra.
Assombrações! Almas do outro mundo! Visagens! Aparições! O negrinho do pastoreio do folclore sul-riograndense; o curupira, com seus pés virados, encontrado no recônditos das florestas, dando gritos fortes e estridentes, imitando uma vez por outra, a voz humana; o anhangá que, afirmam muitas pessoas, assobia na mata; o boto, nos rios da Amazônia, desencaminhando moças ingênuas que nele acreditam e o seguem, impensadamente; o saci-pererê, molequinho de uma perna só, nu em pêlo, barrigudo, olhos claros, dentes bem alvos, barrete vermelho à cabeça, cachimbo à boca – pulando, rodando, fazendo piruetas, pedindo fogo às pessoas que encontra, à noite, nos campos, o fantasma do frade tantas vezes encontrado nos longos corredores do convento da Penha, em Vitória, Espírito Santo; João Dorna, com uma tarrafa nos rios e nos mares maranhenses, fazendo visagens, assoviando, mexendo com pobres pescadores, derramando a água doce dos barrilotes, quebrando os remos, jogando na água as forquilhas, furando as velas; o caipora, montando num porco do mato, desgarrado da vara, ou então a pé, dentro das matas, aperreando e amedrontando quem passa; Jean de la foice, das praias sergipanas; João Galafuz, duende noturno que emerge das vagas ou dos cabeços de pedras, meio submersas, como um facho rutilante e multicor nas praias do norte de Pernambuco; o macoheba; a alamoa, de Fernando de Noronha, que oferecia um tesouro aos sentenciados e outras pessoas que se aventuravam a pescar, nas noites de luar, nas praias daquela ilha maldita, fora do mundo; o lobisomem; Belzebu em pessoa, com chifres, pés de cabra, cheirando a enxofre, olhos de fogo, de brasa viva; a cobra-de-asas, da gruta da Lapa, nas margens do Médio São Francisco. O minhocão, o Romãozinho, o pé-de-garrafa, o fogo-azul, o mão pelada, o cabelo d'água e outros e tantos outros!
Ouso afirmar como os espanhóis: "Yo no creo em brujas, pero que las hay, hai..." E ninguém ouse duvidar, se quiser viver e dormir descansado.
Nesta capital, não somente os velhos sobrados e prédios públicos, como o antigo dos Correios, à praça Pedro II, onde está a Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional, e o que serviu de quartel à Polícia do Estado, na praça Sinimbu, onde funciona presentemente a Escola de Engenharia e, anteriormente, desde a sua fundação, as de Aprendizes Artífices e Industrial – mas árvores e logradouros havia e há ainda mal assombrados.

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