quinta-feira, 28 de maio de 2015



COCOCI - ruinas 3
Lá pras bandas de Parambu, cidade dos Inhamuns no sertão do Ceará, existe uma localidade abandonada chamada de Cococi. Já foi uma cidade, mas hoje é uma vila fantasma, deserta e em ruínas. O povo tem medo até de passar por lá. Diz-se que tem assombração. Depois que anoitece não é bom ficar em Cococi.
Uma vez no mês de dezembro, perto do Natal, um vaqueiro voltava sozinho para Parambu e despercebido como estava, entretido com o silêncio da estrada e sonolento com o trote do animal, viu que já estava passando por Cococi, justamente quando já era noite. A solidão era fatal e assustadora. Sentiu uma atmosfera pesada, uma sensação de sufocamento, uma ansiedade incômoda esmagando-lhe o peito. As casas em ruínas projetavam suas sombras e esgueiravam-se pelas ruas desertas. Há coisas das quais não é possível se dar conta, coisas tantas, materiais, espirituais e misteriosas, que não é de nossa compreensão.
Mergulhado na escuridão do lugar, o vaqueiro temeroso, vislumbrou uma sombra imprecisa, uma sombra tal como projetada pela lua, que se assemelhava ao vulto de uma criança, mas não era a sombra de um ser vivente. Era vaga, disforme, imprecisa e com certeza não era uma sombra humana. O cavalo estancou assustado. O vaqueiro teve a impressão de ter visto a figura frágil de uma menina no meio das ruínas. Ele se aproximou e viu mesmo uma menininha, acocorada, faminta e assustada, num cantinho assim, entre as ruínas de uma casa velha.
Comovido, o vaqueiro colocou a inocente criatura na garupa e rumou para casa. A mulher dele se alegrou muito, pois ainda não tinham filhos e ela sempre sonhou em ter uma menina. E como já estava perto do Natal, seria muito bom ter criança em casa. Planejavam até mesmo adotá-la, caso ninguém procurasse por ela. O vaqueiro saiu para tanger umas cabeças de gado e iria se ausentar por uns dias, prometendo voltar a tempo para a ceia natalina. A mulher ficou em casa com a menina, ansiosa pelo retorno do vaqueiro.
Passado os dias, o vaqueiro retorna para casa. No caminho experimentava uma incômoda e angustiante sensação, como se percebesse a proximidade da morte e a temível sombra que a precede. Um pressentimento de que se encaminhava para uma terrível desgraça também o acompanhava. Agitava a cabeça como que para expulsar os pensamentos agourentos, dizendo consigo mesmo que não haveria de ser nada.
Ao chegar a casa, mal a reconheceu! No lugar havia apenas uma velha casa em ruínas, como se tivesse já transcorrido uns cem anos, desde que partira. Enlouquecido, o vaqueiro saiu em busca de respostas e todos diziam que aquela casa já estava abandonada há muitos anos e que lá morava uma velha e solitária senhora cujo marido a tinha abandonado e desaparecido sem deixar vestígios.

Nenhum comentário:

Postar um comentário